histórias - stories



A primeira caneca / the first one



Era uma vez...
...a primeira caneca foi pintada no final de 1998. Nessa altura estava à espera dos resultados dos concursos de professores e decidi fazer um pequeno curso de cerâmica para ocupar o tempo. O que me interessava na realidade eram as técnicas de azulejo ou barro mas o caminho do destino tem muitas curvas e, por já não haver vagas, acabei na pintura de porcelana. A primeira peça que pintei em porcelana foi uma chávena de café com motivos minúsculos japoneses, pintados com caneta de aparo e saí da aula à beira do colapso nervoso - tinha acabado o curso de pintura há 1 ano e estava habituada a telas e pincéis de razoáveis dimensões - pensei que não ia conseguir aguentar tanto pormenor e minúcia. Mas a porcelana mostrou-se de súbito muito mais vantajosa que o barro, pela sua resistência ao uso diário. Surgiu então a ideia de misturar técnicas e ferramentas e pintar uma caneca para
eu usar, e aos poucos a ideia foi-se clarificando - criar peças pintadas à mão, únicas e especiais, num material resistente à utilização diária!... e saiu a primeira caneca com espírito bonito serviço! Faz parte do dia a dia lá em casa e costumo brincar e dizer que um dia ela estará numa vitrine especial, no "museu bonito serviço!" :-)
Pensei que conseguiria sensatamente conciliar tudo isso com o ensino mas o tempo mostrou-se insuficiente e a impaciência de avançar com o projecto fez-me desistir da escola, das aulas, dos miúdos. Nesse ano estava colocada na escola de S. Teotónio e vivia na Zambujeira do Mar. A decisão não foi fácil. A escola era boa, o ambiente, os colegas e os miúdos, mas a minha cabeça não estava ali e isso também não era justo para eles. Nem para mim. Tinha que seguir os meus instintos. A escola foi compreensiva e eu não saí sem deixar tudo devidamente entregue à nova professora. Voltei para Évora no inicio de 2000 para ser o meu patrão. Mesmo nos momentos mais difíceis, e ainda que por vezes surja a hipótese de um caminho diferente, nunca me arrependi dessa decisão, de nessa altura ter trocado o "certo pelo incerto" como se costuma dizer. Costumo dizer - porque li algures - que prefiro arrepender-me de ter feito alguma coisa do que arrepender-me de não o ter feito! e mesmo que não desse certo, o caminho é sempre em frente!
Acreditei que era capaz e muitos acreditaram comigo, o que sem duvida ajudou - e continua a ajudar - ao longo destes anos a tornar este projecto possível e sempre em crescimento.





coração cheio - my fulfilled heart


Este blog tem sido dedicado ao meu trabalho e raramente misturo assuntos pessoais. Porque não gosto, porque não sou assim. Porque há coisas que não gosto de partilhar com toda a gente. Porque é normal. Porque sou teimosa. Desconfiada. Porque em pequenina me chamavam "bicho do mato" e não suportava que olhassem para mim, quanto mais se insistissem em arrancar-me um beijinho. Porque cresci e até já dou beijinhos mas ..."nem oito nem oitenta".

Hoje recebi um email que fala precisamente de partilha. Da partilha de historias e da vida de pessoas que eu nunca vi nem conheço, que me chegam às mãos e que transformo em desenhos. 
Costumo dizer a quem me pede um desenho que "a partilha é directamente proporcional ao resultado". Explico que tenho um código de ética como os médicos e advogados e que as suas historias ficarão em segredo para sempre, as fotos apagadas do disco rígido :-). E é verdade. Mas o que eles não sabem é que o coração não sabe apagar isso tudo e vai-se enchendo de bons momentos de outras vidas. As vezes lembro-me de um filme maravilhoso que fala de uma "escrevedora de cartas" que coleccionava os bons - e, neste caso, também os maus - momentos de outras vidas.

Desta vez, descobriram-me :-) e dizia assim uma parte do email "...fico a pensar nas histórias maravilhosas que deve conhecer. Para além da nossa, pois claro...  e que vida é a sua, cheiinha dos momentos bons de outras vidas, para além dos seus, claro está. Que delícia! ..." 

É verdade. Cada historia é um mar onde mergulho e de onde saio feliz. E dizem "obrigado por fazer parte disto" e eu penso "obrigada por me deixarem fazer parte disto".

E sim, confesso que ponho as encomendas no correio resignada por ter que ficar de fora e não poder ir lá dentro para ver a cara de quem abre ;-)

Obrigada eu. 
Por me darem um mar tão bom para mergulhar.

 
 
This blog it's about my work and my personal life doesn't come up around here very often. Because I don't like that, it's not me. And because I don't like to share some stuff with everyone. Well, it's normal. I’m stubborn, so what? In my childhood I was terribly shy and couldn’t stand people staring at me, worse if asking for kisses. And it's true that I’m gowned up now, and kisses are ok , but there’s no need to overact.

Today someone wrote me an email about sharing. The kind of life sharing I get from people I didn’t met, and that send me their stories for me to turn into draws. I use to say them that “sharing is directly proportional to results”. And explain that, as doctors or lawyers, I have an ethic code that protects their stories and erase all the files. It’s true. But what they don’t realize is that my heart doesn’t know how to erase files that well and so it keeps filling with happy moments of other people’s life. Sometimes I remember an awesome movie, about a letter's writer who collects good – and bad- moments of other people’s life.

Well, this time they found me :-) and the email goes like this : "… I keep thinking about all the wonderful stories you must know. Beyond ours, of course… and what kind of life you have, so full of happy moments of other people's life, beyond yours, of course. What a delight!"

It’s true. Each story is like a sea I dive in, and get out happy.. 
and they say "thank you for being a part of this" 
and I think "thank you for letting me be part of this".

And yes, I confess that each time I put a box in the mail, I wish I can go inside so I can see the face of whose opening.

Thank YOU.
For such a nice sea for me to dive in.

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